14.12.09

"O TEMPO DAS INCERTEZAS" - CL Francisco Amaral Jorge



Com a presença de CCLL do Clube e do Distrito 115CS, para além dos membros da família e amigos, procedeu-se ao lançamento do livro "... O tempo das incertezas" do nosso CL Francisco Amaral Jorge. Este nosso Companheiro, Lion exemplar e dedicado, Past-Presidente do Clube e membro de sucessivas Direcções, forjou, na provação da grave patologia que o atingiu há cerca de dois anos, esta obra de grande sensibilidade e qualidade literária.

Aqui vos deixamos alguns excertos das palavras que proferiu aquando do lançamento:

Este livro (e não as palavras ou poemas) começou a ganhar forma há cerca de dois anos, num tempo em que iniciei um combate pela vida e onde as palavras que hoje partilho com todos foram, muitas vezes, não só o refúgio para a dor e para as incertezas mas também, e acima de tudo, para as alegrias, para o amor, para a amizade e para a festa da vida.

A sua publicação foi um compromisso que assumi quando comecei a sentir que estava a sair vitorioso desta luta.
Este livro, como tudo na vida, nasceu do amor. Do amor que faz milagres e dá sentido e razão à vida.
O facto do título aparecer na contra-capa deve-se, antes de mais, a uma sugestão do editor, mas também porque quis que o livro reunisse 3 cadernos que marcam períodos diferentes da escrita e da vivência.
O primeiro caderno e que acabaria por ser o título em contra-capa “ DOS DIAS PASSADOS NAS MARGENS DA VIDA OU O TEMPO DAS INCERTEZAS”é o caderno onde aparecem as dúvidas, as incertezas, as interrogações … mas também, a esperança: “Mesmo quando sofremos e sabemos/ não existir o amanhã/ teimamos em acender fogueiras nas esquinas do tempo/ Que rio é este que nos alimenta?”; é o caderno (como aliás em todos) onde se canta a vida, o amor e a amizade que nos alimentam todos os dias. “És tu amiga que povoando o meu pensamento/dás-me a espada de combate a estes medos/ para dormir sereno sobre as feridas ainda abertas”; É o caderno onde quis sublinhar que nunca houve em mim o sentimento de revolta pelo que me aconteceu: “Por isso não me revoltei/nem nunca me revoltarei contra os deuses/pelo que me deram …Continuarei apenas/a semear esperança para que nasçam sorrisos em todas as manhãs do mundo”.
Como dizia Randy Pausch “Não podemos escolher as cartas que nos são distribuídas, a nossa liberdade reside em saber jogá-las.”
Um outro caderno a que chamei “ POEMAS ARRANCADOS À MEMORIA”.
Este caderno refere-se a um tempo em que num encontro com a história assisti e participei no nascimento de um País, ANGOLA. Poemas como “CACONDA 87” ou “CHIPINDO” são apenas dois exemplos da violência de uma guerra. Mas, para além desta guerra, e como digo num poema dedicado às crianças/pioneiros, também sabia que “Era outro o vento/ Era outro o perfume / que vinha das anharas” (zonas de savana com vegetação própria). Nesses tempos, em que várias vezes fui confrontado com a violência da guerra, recordava uma frase de John Steinbeck, prémio Nobel da Literatura em 1962 “O nascimento de um País é muitas vezes como um parto: é acompanhado de sangue e dor.”
Não resisto a contar um dos muitos episódios de guerra a que assisti e desde já peço que me perdoem a violência destas imagens. Numa das viagens regulares que fazia aos Municípios, na qualidade de responsável pela educação e membro do Governo Provincial, deparei com uma aldeia que tinha sido alvo de um ataque. A aldeia estava quase completamente arrasada. De repente, ouvimos um choro de criança que vinha de uma cabana ainda em fumo. Era uma criança agarrada ao seio da sua mãe já morta.
Um caderno a que chamei “DO MAR E DOS JACARANDÁS”. Um caderno onde o mar, que marcou a minha infância, está presente “…cresci brincando no dorso de todas as gazelas/ sedentas de luar e ébrias do vermelho do entardecer. …Mas foi lá/ entre o deserto e o mar/ que ficou meu coração.” Um caderno onde aparecem as “palavras” que foram nascendo e crescendo ao longo destes anos. Um caderno onde aproveitei para responder a um amigo que dizia que só apreciava os versos com rima e por isso lhe disse: “ O meu poema não tem rima/ apenas o ritmo do bater do coração…O meu poema caminha pela noite/ alimenta-se das estrelas” ;
Um caderno onde surgem inquietações sociais: “…parte para os bairros dos que moram abraçados ao vento / e para além das pétalas semeia em cada lágrima o trigo das nossas estrelas e aos sem-abrigo que encontrares …Tira do teu coração todo o amor que vivemos e aquece os seu braços / para que não tenham medo / de olhar o futuro”.
Um caderno com os sabores e as imagens de uma terra distante. ANGOLA: “Ficou-me dos teus lábios o sabor agridoce das pitangas” ou “sobre o salto ágil da gazela percorri a loucura mágica dos teus seios /e Nas dunas inquietas do Namibe afoguei a sede da tua boca laranja.”
Novamente a presença das “gazelas” que por várias vezes aparecem na minha escrita. Para quem já assistiu a um bailado destes animais no deserto, ao pôr-do-sol, sabe o que quero dizer.

(...)Obrigado meu Deus, obrigado meu “Enigma do Universo” tu tornas-me melhor cada dia que passa e mais forte para as lutas ainda por travar,